O mar calmo de vagas límpidas. O sol poente no horizonte mais que poético. No isolado de oceano as ilhas de cães ladrando. O último sol resplandeceu, na mesa os últimos livros lidos, o último romance a ser escrito. Querendo ou não a vida levou-te para campos lindos, não mais belos que os campos de Portugal, do fado, das Tágides e de Camões.
No entendimento pouco que tenho sei do peso da partida, dos pensamentos diretos e imedidos. Voou o poeta-romancista para aonde eu não sei. Viajou para onde dormem os antigos trovadores, desenhando agora poesias para o infinito cosmo.
O que não vê não ama, e se ama pura e fielmente: já não vê. Dou um bandeirola branca amarrada em teu barquinho, que singrará sete céus, contando sobre a vida dos amores inteiros e das dores não vistas.
Vai um dos últimos grandes prosadores, vai uma das últimas mentes abertas ao vácuo da não-entendibilidade do ser.
No último arrebol da tarde quente ao hispânico som da maresia verteu o corpo em poesia, virou estrela na constelação de auras místicas. Cada entonação em mel destoava palavras com subjetivo gosto amargo, aos meninos portugueses que jamais te conhecerão lembrarei teu nome Saramago.