terça-feira, 28 de setembro de 2010

O carro na noite

Vinha da janela entreaberta do escritório um vento que pronunciava tempestade, a brisa enregelou meu corpo num arrepio involuntário. Levantei-me para trancar a vidraça, da mesma podia observar a rua e o negrume da noite avançada. Apenas uma luz de lampião com alguns insetos de calor me diziam que havia vida naquela escuridão.
Um trovão, e um carro cruzou a rua em disparada em uma curva perigosa que traçou, as marcas dos pneus ficaram marcadas no asfalto. Rodou uma, duas, três vezes e meia e bateu com violência no portão da casa em frente. Num solavanco meu coração me impulsionou ao telefone pronto pra discar a emergência.
Mas algo dentro em mim paralisou meus músculos. De dentro do carro saiu um homem alto e uma jovem ruiva num mini-vestido carmim, sua pequena bolsa barata cintilando aos faróis traseiros do carro enquanto fechava o porta-malas que abrira na colisão.
Luzes se acenderam no domicílio do acidente, o rapaz disse algo para a moça, que rapidamente correu para um beco próximo. Ele também tratou de desaparecer (provavelmente marcaram um lugar de reencontro).
Ouviu-se o grito de uma sirene indo e vindo no vermelho-azul-vermelho sem fim. Parou em frente a casa, aproximou-se da senhora de robe que por fim chegara aos portões devido a lentidão da idade.
O guarda conversou por breves dois minutos, ligou uma lanterna e anotou o número da placa. Ligou a viatura a partiu em busca das duas personagens da cena que presenciei da alta janela de minha humilde casa. Fiquei imaginando o que haviam feito para atrair os homens da lei. Mil pensamentos passando por minha mente criativa, enquanto colocava o telefone que ficara o tempo todo em meus punhos por uma ambulância que não veio. Voltei aos meus afazeres e a chuva precipitou-se, como se tivesse espiando toda cena como eu, para depois desabar.

3 comentários:

  1. Como a chuva espiando espero para ver toda criatividade desabar. Continua amigo!

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  2. Obrigado pelo comentário Eli =). Continuarei sim. podexá

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  3. O desfecho complementou muito bem a narração meu amigo. Parabéns!!!

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