sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ama-me



     É preciso considerar as coisas que temos. E as que não temos, mas queremos ter. Os planos meus, teus, nossos. Os medos, as desculpas, as obrigações, as necessidades. Te ver também é bom, uma vez por semana, pelo menos. Ouvir também um pouco da tua voz, semi-voz de sussurro, que você me ouça também. E que me toque, me retoque, me descubra a pele nua, a alma vestida de olhos – teus. Não matar os rivais, mas também não ficar indiferente se alguém chegar muito perto de você. Desprezo e odeio as segundas intenções dessas pessoas que não perceberam que a gente já se pertence, não há socialismo possível.                                                                                       

     É preciso comunicar em cartas, mensagens, de alguma forma te contar as novidades do dia. Brincar no parque, almoçar no domingo, ver o futebol, o filme sem graça, o clássico em preto e branco “As time goes by”, ouvir música, cantar junto, dormir no tapete. Fazer brigadeiro, brigar um pouco, ficar distante, ter saudades, suspirar no meio da noite, chorar no banho, pegar fogo no desejo mais ardente. Matar tudo isso no próximo reencontro. Sorrir.                                   

     É preciso não seguir os conselhos, siga o coração, o clichê indomável. Coração, coração, grande perdição. Perdurar. É preciso perdurar. Mas não se arrastar, isso não. Seguir de pé, saudável, sem saudosismo. Cada dia um novo dia e no novo dia uma nova constatação do querer que precisa continuar querendo. Verbalizar às vezes, demonstrar sempre. Não espalhar essas coisas por aí, deixar um pouco oculto sob a face da Lua que nunca vi.                                        

     Mas não, não sei. Será assim mesmo? Falo besteira? Falo do quê? Ah, é só uma tentativa de teorizar o que nunca viu certezas. É melhor deixar tudo em paz, corre riacho pra onde tiver que correr. Que as águas sempre sabem os caminhos, mesmo que sejam tortuosos, pedregosos, cheios de limo, poluição, desgraças. Segue o rio, atravessa o rio, seja o rio. E quando chegar a hora, quando chegar a vez, saberá que deve atirar-se ao mar e amar de uma vez. Dessa vez para valer, pra sempre – até onde a vida permitir. 

- Caio Augusto Leite

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