quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O motivo do meu nascimento


Havia um tempo em que você era mais só,
pois eu não tinha nascido.
E a sua infância foi a longa procura de mim.

Mas eu vivia por entres corpos celestes,
vultos de criação, maremotos, sei la quê.
Qualquer coisa de cósmico.

E eu te vendo tão triste,
brincando no jardim,
resolvi cair aqui...

...errei o cálculo,
demorei quase vinte anos
pra te achar.

Mas achei.
Não te reconheci,
mas senti algo
de familiar.

É que dentro do seu olhar de agora
- tão cheio de madureza e responsabilidades -
mora ainda aquela sombra triste
que só some quando chego.

Tempo de agora,
em que toda hora é rememoração
dos momentos que já foram.

Natural medo da perda,
medo de voltar para o ser-só.

Como você foi, no jardim,
colhendo flores,
preparando amores
para mim...

-- Caio Augusto Leite

terça-feira, 11 de setembro de 2012

No simpósio


Não procuro a sagrada sabedoria
e nem quero pousar as íris sobre livros.
Não quero a baforada - cheia de arrogância -
dos intelectuais.

Não me deem sermões,
teorias,
fardas
ou obrigações.

No meio desse povo,
dessa gente,
eu só busco um você.
O Você.

A impossível
e vacilante
pessoa.

Onde conjugar?

Buscaria, mas escrevo
e pouco a pouco
sou massa pensante.

Se não se pode amar,
junte-se aos sós.

- Caio Augusto Leite

sábado, 8 de setembro de 2012

Mãos na terra


Nossas mãos estavam sujas,
brincávamos na terra.
E eu, de repente, te amava.

Eu sempre fui de entender
e você nunca de falar.
Eu entendia teu silêncio.

Era mais fácil te amar.

Nossas mãos ficaram separadas,
foi um tempo na vida,
acontece também.

Um pra lá, dois pra cá.
Um vai e vem de romances.
Roda, baila, gira, voltamos pro mesmo lugar.

Pena não aproveitar. É curta a vida.
Brincamos pouco. Sorrimos menos.
Que tola escolha.

Minhas mãos estão sujas,
cavavam a terra, te plantavam
na esperança, na quimera

de que um dia renasças das cinzas
para amar, para viver,
o que nos impediu a pressa.

- Caio Augusto Leite

domingo, 2 de setembro de 2012

À vida


A vida
adia.
As divas,
não.
Vadias
secretas,
as divas.
A vida,
que vida.
Dívidas,
dúvidas,
ávido
por vida.
E a vida
adia.
Há dias
espero
O Dia.
Vida,
não duvida.
Um dia,
ó vida,
eu te adio.

- Mas ando com muita esperança pra pensar em suicídio.

- Caio Augusto Leite

Istmo


Fino fio
que liga
cá e lá.

Transparente
elo, presença
-ausência.

Hífen de composição.
Guarda-chuva,
amor-perfeito.

Ondas, sondas,
telefones, sites.
Tu-aqui.

Suez íntimo,
você-eu.
Amor-meu-istmo.

- Caio Augusto Leite