Era preciso escolher
um dentre os três escrínios. Não era uma decisão fácil, pois ninguém sabia o
conteúdo deles. Havia muita ponderação, medo do risco, lágrimas rolavam com a
perspectiva do erro. Mas não havia tempo para esperar uma resolução da vida. Só ele podia apontar o dedo e dizer: Eu escolho
esse do meio, ou da esquerda, ou da direita? Por que não podemos ficar com
todos? Mas não resistiu e acabou por escolher e na escolha encontrou apenas
três moedas de ouro, era a prosperidade material...
Viveu alguns anos com todos os prazeres
da vida, os luxos, os regalos, tudo de lindo estava dentro do seu alcance, mas
sentia que faltava alguma coisa e negociando, com seu dinheiro, conseguiu a
chance de trocar o escrínio. Dessa vez tirou de dentro dele uma pena e um par
de óculos: era o saber mais puro.
Sabia de tudo, todas as
esferas do conhecimento, as fórmulas, os cálculos, as artes, os ritmos, as métricas.
Nada ficava longe dos seus olhos atentos e da sua mente extremamente treinada
para entender todos os fenômenos existentes. E por saber tanto, sabia que
faltava algo e usando da sua astúcia trocou novamente os escrínios. E pela
última vez abriu a tampa e retirou um coração sangrando enrolado em um pano
de seda. Tinha em mãos o próprio amor, o amor de todas as eras.
Amou,
amou sim. E teve todos os sorrisos, beijos, toques e esperanças que só esse
sentimento pode trazer. Mas por amar demais, também sofria, pois sabia que
ainda faltava alguma coisa. Não tendo ouro e nem sabedoria, não podia trocar de
destino. Sendo apenas mais um apaixonado, tomou uma decisão radical: jogou
todos os escrínios no fogo ardente da eternidade. E sem nem um tipo de algema
que o prendesse, seguiu seu caminho com a felicidade mais primitiva. É uma
pena, não teremos a plenitude e sendo assim a total ausência de tudo é a única
maneira de ser pleno, mesmo não sendo.
- Caio Augusto Leite
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