quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A fonte do colibri

Num cantinho de mato, no remoto presente de um lugarejo quase sem progresso, nascia uma fonte em que todos os dias três pequenas aves iam bebericar a água límpida.
Uma era um canário da terra, amarelo vivo, refletindo em sua tonalidade toda vivacidade da mata. Outra um sanhaço, no seu azul metálico era um pedacinho de céu aos olhos de quem via. Por fim havia um cuitelinho quase cinza, com listras verdes, nada muito especial.
Os dois primeiros quando surgiam do manto espesso de folhas e galhos, traziam a si todos os olhares, as águas paravam, os insetos pousavam e as flores se abriam. Só que o cuitelo passava despercebido, era o que pensava.
Em um dia de Maio, cansado de tanta desatenção, o pequenino não voou para refrescar-se na fonte. Então os seres arredor ao notar sua ausência não sorriram como sempre. Ali do meu lugar privilegiado entendi que sem o ligeiro bater de asas do cuitelo, a beleza dos outros dois estava desfalcada.
Voltei para casa, não mais fugindo e nem escondendo minha beleza que completava os que viviam ao meu lado, e que precisavam de mim. Assim como a fonte precisava do diminuto colibri na sua intocada e essencial imagem de ave-pintura.


28/09/2010 - Caio A. Leite

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