sábado, 15 de dezembro de 2012

Açougue


Por que me retalham em prosas que não sou? Em poemas que não sou? Em frases que não sou? Talvez seja mais fácil me entender, como o cientista que precisou dividir o corpo em tantas partes. Cabeça, tronco e membros. Mas a verdade é que conhecendo meus pés, meus braços serão sempre desconhecidos. E o que for entendido será ato falho. Se não me entendo na completude, como me entender na fração? Quanto mais me dividem menos sabem de mim e mais sei de vocês que só querem um Santo para coroar. Um homem pra sacrificar. E eu não aceito. Não sou tábua de salvação. Gosto da minha humanidade impossível. E mesmo inteiro estou sempre me multiplicando, qual rosto te olha agora, qual boca que fala? Nem mesmo eu sei. É que eu sou trezentos, trezentos e cinquenta...

- Caio Augusto Leite

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