quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Diálogo na métropole

Esbarro num corpo.
Os papéis caem.
Ajudo a recolhê-los.
Reconheço as faces
rubras.
- Joana! Por onde andavas?
- Desculpe, não estou te
reconhecendo.
Meu olhar era de espanto
com incredualidade.
Esperava que ela dissesse
que era alguma brincadeira,
não foi.
- Sou eu. Mário, estudei
com você.
- Mário, Mário, desculpe
não consigo recordar.
Seu semblante era vago,
como se tentasse buscar
um passado distante.
- Estud... - comecei
mas fui interrompido.
- Hei Joana, consegui um
táxi - um homem distante
acenava.
- Preciso ir, fique com
meu cartão, nos falamos
depois.
Ela correu para o carro.
Beijou o rapaz, e o
veículo partiu.
Partiu no veloz
correr da cidade
agitada e nervosa.
Andei com passos
tímidos, caducos
de tempo.
Olhei o cartão.
Advogada.
Ela queria ser
engenheira.
Caminhei mais,
amassei o cartão
e o joguei no lixo.
Cruel tempo de passar,
nem tudo será como antes.
O fim, às vezes, não se
evita.
Como o meu rosto que
Joana esqueceu, como
o muro que agora se
ergue na construção
a frente. Para trazer
novos prédios ao rugir
da metrópole selvagem.

Caio A. Leite - 28/10/10

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