domingo, 10 de outubro de 2010

Eu e você: o Tempo

Éramos crianças. Éramos facilmente enganados
Acreditamos que cada estrela, era aquela tia que morreu
Que cada noite, era o descanso inevitável ao Sol.
Nós éramos crianças e pensávamos que a vida
era só aquele monte de cores em tom pastel
que criava em mim e em você, aquela sensação
de segurança. Que vida foi essa, acho que fomos
crianças demais, mas quem dera, voltar pra esses
antigos tempos. Tão felizes e puros, tão serenos.
Que mal há em querer vislumbrar por trás da
cortina da idade? Querer encontrar a verdadeira essência
da nossas existências? Creio que crescemos rápidos demais,
para nós que dói tudo em dor inteira. Era melhor que nem
tivéssemos chegado até aqui. Tivéssemos voltado correndo
para o abraço da nossa vó, enquanto ainda tinhamos tempo
mas que tempo? O tempo me levou, e te levou, por correntezas
aflitas, inteiras adultas. Tão adultas, tão maduras que nos fez
esquecer como é bela e natural a sinceridade e os sorrisos
das pequenas crianças.
Que doce inverno me desfolha em folhas de luz, luzes,acordes,som, cores.
Ah que bêbadas miragens que rodopiam por entre meus pensamentos lúcidos.
Por que os outros ainda não cresceram? Eles que ainda eternizam as pequenas
lembranças, os pequenos gestos. Nesse mundo não há entidade completa, só há olhos e lábios. Olhos para te estranhar e lábios pra te criticar. O que fazer? Me esconder atrás da cortina e me calar? Ou encarar de frente todos esses rótulos? Sei que ao me alevantar e protestar, será como me jogar a frente de um punhal, de uma adaga afiada. Que fazer então? O que?
Eu quero só a liberdade de uma manhã de primavera, de uma borboleta tentando vencer a ventania com suas asas de seda, tão frágeis e determinadas.
Vem que a aurora desmonta e novo dia cai. E eu não sei o que fazer pra aproveitar,
por que cada dia que passa é como se nem o tivesse? Onde estão aqueles dias da infância?
Das risadas, do lazer e da família? Ficaram perdidos numa realidade utópica em algum canto
do universo, atrás de uma nebulosa, de uma estrela ou há milhares de anos-luz.
Fechem os olhos e não vejam mais as guerras, a paz, o amor e nem o ódio. Deixe todos os
sentimentos, todos ressentimentos. Suba num carro ao fim da noite, fuja para o campo.
Corra por cenários infinitos, pare na encosta mais alta que encontrar. Deite ao chão. Sinta o cheiro da relva molhada, respire fundo, e antes que tudo possa acabar. Olhe para o firmamento e deixe que tudo ao redor se acabe. Deixe cidades ruírem, deixe amores findarem, deixe a voz falar. Deixe tudo, sinta a luz etérea que baixa limpa e única.
Ao passar da estrela cadente, em rumo decadente, deseje nada. Nunca peça o todo. O todo é infeliz e finito, queira sempre o nada que vai se moldar a sua personalidade, mesmo que dela saia o infinito, mesmo que dela saia nada. Ou de nada seja tudo, e seu tudo seja nada.
Caio A. Leite

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