domingo, 23 de janeiro de 2011

É segredo

Como definir o infinito? Para percebê-lo seria necessário ser infinito como o próprio objeto de estudo, ser tempo eterno. Como pode haver infinito se tudo começou um dia. Começou e chegou até hoje, até o agora em que escrevo e que já passou. Não há infinito, há o hoje com todas suas concessões. Pensar num futuro é prever o infinito, é chegar onde não se pode e nem se deve, querer tocar o infinito é tornar finito, logo já não poderia existir o que é inacabável.
Mas como por na minha própria cabeça que o amanhã jamais existiu. O amanhã é uma hipótese, um desejo, um querer poético de amar amanhã, de fazer amanhã, de deixar pra amanhã. Algo que não existe, como o infinito. Não há. Não existiu o dia depois, é sempre o dia antes. O ontem talvez, mas o que passou já é mito, já não se prova já se perdeu o que vale é agora, não o que se prevê.
Voltando ao infinito, de onde veio essa obsessão em traçar trajetória sem fim, sem começo, sem meio? Como se com esse preceito de infinidade, cria-se a fantasia de uma imortalidade humana em contos, em versos, em histórias. Mas não há o que se passa se perde e vira não-infinito, pois já é finito e acabado.
E não adianta buscar o pra sempre, não há saída. Mesmo que haja o eterno, a eternidade seria supostamente muito tempo. Tempo que faria as coisas passadas, tão herméticas em sua própria natureza se desmancharem em toda memória que busque aquilo que já foi, e que agora não é mais, pois já foste esquecido. Por outro lado, se houvesse um fim, uma linha de chegada, seria óbvia a destruição de tudo. E tudo se aniquilaria por conta própria nesse fim hipotético que transformaria qualquer lembrança em pó.
Só há que se parar de pensar no que se vai, no que se foi. Só existe um verbo que contemple as coisas com verdade. Há. E nada mais. Não houvera e nem haverá. O que é memória é soma de passados e tudo que é passado deixa de existir, pois assim dita as regras impostas. Não que o futuro não venha, pra alguém, pra alguma coisa, para um átomo perdido no universo infinito (?) ele virá. Mas só virá se existir protagonista pra esse futuro. Pois tempo sem ter onde atuar, já não é mais tempo, é só estagnação de existência. Tudo para e o tempo já não existe, logo não é mais infinito.
A única coisa que posso é parar de incluir tempo em filosofias, em teoremas, em dogmas. Todo contexto é passado e não mais existe, o que existe são suas sobras que vagaram nos hojes que vieram, mas jamais nos amanhãs que não existem.
O que é tempo, infinito, humano é teórico. E o que é sentimento vira teoria, pois é pensado, todo sentimento é teoria, quando vira ato já não é mais sentimento, é humano e racional, pois é bom. E o que vem pensado para ser, não pode ser sentimento, na verdade é o avesso disso. Sentimento vem sem pensar, mas quando já pensamos, não mais existe. Se acharmos que é amor, mesmo que antes fosse agora não é mais, pois já racionalizamos, e deixa de ser o que era.
Sendo inexistente a definição de infinito, logo o amor também não é. Talvez nem exista já que tem que ser oculto para ser, e se é oculto não podemos medi-lo.
O que é medido também vira humano, nada existe que não seja racional. Todo o resto é ficcional, só existe, pois podemos manipular a mente do que escrevemos. E ao filtrar esses pensamentos podemos tornar tudo sentimento, mas que evapora na leitura pensante que matematiquiza todas as possibilidades.
Não posso e nem devo ser a prova final do que digo. O que escrevo ponho pra fora e num ato de dor sem igual destruo a humanidade que há no que penso. Mas só será desumano e irracional enquanto documento secreto, guardado e sem análises. Pois do momento em que se lê, evapora-se todo trabalho de desumanizar as palavras, e tudo se torna óbvio e sem sentido. Para entender é preciso não ler, logo entender é individual. Mas mesmo que entenda não conte, não faça. Ao transpor a verdade em ato, ela deixa de existir e viver não faz mais sentido. O que faz sentido é saber e fingir não saber. É deixar que os outros descubram a grande verdade do infinito.


Caio A. Leite - 23/01/2011

Um comentário:

  1. Boa Reflexão. Embora discorde em partes da mesma. Parabéns!!!

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