sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Carta ao tempo

São Paulo, 26 de novembro de 2010

Ao tempo,

Agora que passastes, encontro no futuro a esperança de encontrar a felicidade. Ando atordoado para o fim.
Deixo a ti todos os meus sonhos moídos, aqueles pequenos desejos infiltrados no inconsciente impossível de querer. Deixo também alguns cabelos brancos que surgiram do desespero, da angústia e das preocupações que me trouxe.
Sr. das Eras não me mates antes que possa rever os olhos gris que se perderam na poeira das ruas. Que eu me despeça dos bons amigos e que eu possa dizer a eles mais que um "como vai você?".
Da antiga casa, que passei a infância, não envelheça a nem se perca em teias de aranha. Nessa manhã que inspira vida, a morte é irônica ao calejar essas mãos cansadas, em fragilizar esses ossos velhos e em escurecer a visão míope de leitor assíduo.
Meu Deus Tempo, carinhoso feitor, devora-me a alma. Devora-me o corpo pouco-a-pouco. Não dê margens para arrependimentos. A chuvinha molha os vidrinhos escoando vitalidade ao redor, mas não em mim. Chove, chove, chove e fim. Morte!


Até quem sabe
O filhos das horas

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* - atividade proposta na aula de literatura

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