sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Poema de memória

Mirei o espelho, e vi um fundo.
Não o real, pois era-me estranho.
Era o passado do Eu no mundo.

No canto, uma cadeira de balanço.
Papai saía logo pro trabalho.
Vovô no sono manso.

Vovó cozinhava - feiticeira.
No outro canto a mesa grande
e em cima dela uma fruteira.

A manga ali, parada, me sorria.
Boca nua em carmim-roxo,
mamãe comia.

Na estante antiga, mil bibelôs.
Titia limpava os móveis, tirava o pó.
Um tapete de desenhos míticos, by camelôs.

Tantos brinquedos,
roupas, beijos,
e causos de um alguém.

Ficou tudo no reflexo.
Do lado de cá não tem mais riso,
não tem mais luz, não tem ninguém.

- Caio Augusto Leite

Um comentário: