Quando escrevi um texto realista,
no outro dia já era abstração.
Como muda o tempo,
a realidade não tem coração.
Ontem quando escrevi aqueles
versos tão loucos de hospício
e roupa branca, pensava que fugia.
Mas hoje abri a janela
e lá estavam as imagens que pintei.
Gaivotas em chamas, meninos de terno.
És louca, Maria?
A realidade não me perdoa
e nem me deixa na poesia.
Tudo que escrevo se despede,
vira arquivo morto,
pão de ontem na padaria.
- Caio Augusto Leite
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