Na esquina de minha casa largaram um colchão
todo furado, espuma caindo, imundo de tudo.
Achei o lixo muito inusitado
e pensei:
Quantos sonhos nasceram naquele colchão?
Quanta noite mal dormida, quanto sexo,
quanto amor e quanta saudade.
Quanta febre,
quanto café de bom dia.
A vida inteira naquelas molas,
que se impregnaram da coisa íntima.
Quem joga fora um colchão,
das duas uma:
ou realizou os sonhos
ou eles viraram bruma.
Ah mas se aquele colchão falasse,
ninguém o teria largado assim
de forma impune, tão sem pudor
na minha esquina.
- Caio Augusto Leite
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