Um trovão me desperta,
tenho três anos novamente.
Procuro meus pais na escuridão,
não os encontro.
Sinto medo, frio, tremores.
Começo a chorar, choro o mais alto
que posso. Ninguém ouve.
Mesmo que ouvissem, não virão me socorrer.
O móbile desesperado ao vento me assusta,
sombras se espalham pelas paredes
formando dragões, espantalhos,
o homem do saco.
Tento sair daqui, as grades do berço
não deixam eu escapar desse quarto.
Estou preso e o peso dessa constatação
só aperta, embrulha e amassa mais meu coração...
... o pesadelo termina, tenho meus vinte anos novamente.
Mas o novo trovão me deixa alerta, sempre tive medo de tempestades.
Sempre tive os mesmos medos, os conservo dentro de mim
há anos e já não sei como é viver sem tê-los.
E não adianta chamar "Mãe" ou "Pai" no escuro,
eles agora estão dormindo, não devo acordá-los mais.
Precisam descansar as noites que passaram em claro comigo.
Mais um trovão, fecho os olhos e acordo pra dentro.
Nessa densa névoa, coberto de suor e urina,
já não sei o que é sonho, o que é loucura e o que é
a realidade propriamente dita.
E se a dita realidade for só
convenção de uma irrealidade coletiva?
Talvez exista um plano onde eu acorde
e tenha o peito de minha mãe e os carinhos
da nega-dinda, da boa Rosa, da Rosa Maria.
- Caio Augusto Leite
Nenhum comentário:
Postar um comentário