quarta-feira, 25 de julho de 2012
Descostura
Acabei não indo,
acabei ficando,
o amor pela janela
a cortina desfiando.
Mania que tenho, quando aflito.
Romper as tramas do tecido,
enrolar no dedo a linha,
prender o sangue,
vencer a dor.
Imediata dor que surge
quando percebo que a saudade
já é maior que a capacidade
de me manter distante.
Vi passar pela rua
e estava tão linda.
Tão cheia de flor,
tão cheia de lua.
Onde ia assim vestida de renda?
Pra que outro inocente contaria história,
amarraria o peito e depois sem motivo
daria adeus, diria Deus: perdoa a Madalena,
ela não tem culpa de não amar quem a deseja.
Acabei não indo,
acabei ficando,
você passou tão ligeira,
que desfiei a cortina inteira.
E agora, todos que andam pela rua
conseguem ver meu rosto abatido,
cheio de marcas, de olheiras,
através da nudez do vidro.
- Caio Augusto Leite
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