quinta-feira, 19 de julho de 2012

Xícaras


Derrubei as xícaras,
sinto que derrubei.
Há no ar uma hesitação do tempo,
tudo anda em câmera lenta.

Derrubei as xícaras,
sei que o fiz.
Meu cotovelo bateu
em sua concha de vidro.

Derrubando uma, derrubei as outras.
Quanto caco de vidro pra juntar depois,
quanta explicação terei que dar
para o dono dessas xícaras.

Não derrubei algumas,
derrubei todas as xícaras.
Acabei com todas as esperanças
de quem vinha com sede de café ou chá.

Beberá em copos, antes que eu os quebre também.
Mas eu preciso mesmo me penitenciar
se ninguém sentiu pena ao quebrar minhas xícaras?

Quebrei as xícaras e quase sinto
que não foi por acidente
e se foi, não poderia ter sido
mais propício.

Quebrei e quebraria de novo,
só pra você sentir a dor
dos cacos entrando nos teus pés.

Só pra você entender como ficou
difícil de viver depois que você se foi,
depois que quebrou minhas certezas,
minhas expectativas e é claro
minhas xícaras.

Viva você também sem elas
e perceberá que a solidão
fica maior quando não se tem
a companhia de algumas xícaras.

- Caio Augusto Leite

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