domingo, 15 de julho de 2012

Asas de sombra


Reparo em tuas mãos grandes,
nos teus dedos compridos.
Duas tábuas de sacrifício,
dez mandamentos em falanges,
falanginhas, falangetas.

Dedilha no meu corpo uma partitura antiga
que invoca a profana música
renegando a santidade do teu ser.

E as veias azuis que saltam,
e se tornam táteis ao meu sincero toque,
são rios de amor e perturbação hormonal:
o coração por certo acelerado.

Tuas unhas ásperas fazem cócegas,
arranham, marcam, assinam minha pele.
Mas ainda assim é triste não tê-las.

Reparo nas tuas mãos ágeis,
que me despem, que me vestem
feito conchas em seios de sereia.

Mão que desliza, que realiza sonhos
que nem foram sonhados.
Descobre curvas, infere retas,
consagra espasmos.

Contorna meus lábios,
meus olhos, meu mês inteiro
que será só perambulo por
esses fugazes momentos.

Busco as tuas mãos no véu da noite,
as tuas pálidas mãos de morte e vida.
Mãos flutuantes e que me escapam,
onde andarão?

Dentro da solidão eu vou esmaecendo.
Sem tuas mãos de divinos dedos
o meu ser é só vazio.
Sem meu ser as tuas mãos não têm segredo,
é apenas carne, sangue e pele.

É que o amor sozinho já não é milagre.

- Caio Augusto Leite

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