segunda-feira, 23 de julho de 2012

Quarta

Andando pelas calçadas sujas,
pasta debaixo do braço,
coluna ereta, olhos determinados.
Guardo no bolso do peito
um pequeno papel com o teu nome.

E como todos os dias que teimam em nascer,
nasce também a dupla face da vida:
de um lado o milagre, do outro o desastre.

E são nesses dias de estranha calmaria
que a coisa acontece.
É o silêncio do destino
tecendo suas perigosas linhas,
planejando sudários, cobrindo o sol de luto.

Sigo sem saber do futuro.
Daí, projétil alheio rasga minha carne,
rasga o papel, rasga você.

E manchado de vermelho eu vou indo com a tarde,
deixando no teu peito um buraco maior
do que aquele que está no meu agora.

Tudo isso porque eu te colhi no meio do jardim,
senti teu aroma e cuidei das tuas folhas.
Porque eu plantei teu nome dentro de mim,
porque você me ensinou o segredo da primavera.
Porque a gente se amava.

Mas era quarta-feira,
os prédios não tinham sentimentos
e as pessoas estavam edificadas.

A menina regava a rosa seca,
o peixe-dourado morto no aquário,
o sangue nos bueiros
e ninguém se espantava com isso.

- Caio Augusto Leite

Um comentário:

  1. Grande poema...Guardo no bolso do peito
    um pequeno papel com o teu nome. Gostei dessa parte ficou bem maneira!
    Parabéns!

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