segunda-feira, 16 de julho de 2012

Elegia ao teu desaparecimento


Ontem colaram fotos pelos postes,
em preto e branco e um aviso.
Procuraram por todos os becos,
bares e avenidas.

Ontem o cheiro dela pairava no ar
e as flores sabiam seu nome.
O céu não tinha tantas nuvens
e os carros varavam a madrugada em sua busca.

Ontem os meus olhos choravam
pela sua ausência
e as crianças abandonavam
o parque para ajudar.

Ontem ainda havia esperança,
como se misteriosamente
você abrisse a porta
e beijasse seus pais tão aflitos.

Que me ligasse de novo,
que cantasse pros órfãos.
Que simplesmente existisse entre nós
com a sua felicidade nata.

Mas o sol se pôs,
as fotos mancharam na chuva.
As crianças foram brincar no gira-gira.
Como gira a vida.

Hoje a polícia encontrou seu carro dentro de um lago
na Zona Sul da cidade. Seu corpo morto e cheio de frio
estava alvo, as veias em relevo, os lábios roxos.
Os olhos fechados e era só uma noite de sonho.

Uma noite que começou ontem
e se prolongou por toda a eternidade.
Aguarde, meu amor, que logo mais
todos nós iremos nos deitar no leito do teu sono
para nadarmos na felicidade de outros lagos...

- Caio Augusto Leite

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