quarta-feira, 23 de maio de 2012

2 de novembro


Alguém morreu, ligaram pra avisar.
Que grande choque,
morreu de que será?
Talvez infarto,
talvez sequestro,
quem sabe suicídio...

Quem pode saber?

Por enquanto só avisaram
que alguém morreu.
Abracei minha mãe,
meu pai e meu irmão
- eles já vestiam preto.

Abracei mas não tive resposta,
que amargos que estão.
Fui pra rua, encontrei meu amor,
mandei um aceno e ela também ignorou.

Meus amigos brincavam de roda
tempos de outrora,
tentei entrar na dança,
mas não cabia mais na história.

Meu inimigo nem me notou,
meus professores,
meus anônimos do metrô,
minha tia, minha vizinha, meu cão...

Meu cão me reconhece,
late e some,
acho que tem medo,
medo de quê?

Cansado de vagar pelo mundo,
em busca de carinho, eu volto pra casa.
Já é noite avançada.

Em volta do corpo choram pessoas,
fazem vigília, as velas acesas.
Alguém ligou, alguém avisou,
alguém morreu.

Chego mais perto,
sinto meu cheiro.
E entendo de vez:

- O morto sou eu.

- Caio Augusto Leite

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