quinta-feira, 17 de maio de 2012

O rato


Numa manhã chuvosa
o coração dá um salto
me pega um corpo de súbito
um rato morto no asfalto.

Está lá, morto!
Rato doença,
rato viral,
rato nojo.

Seus olhos fechados,
seu corpo cinza,
o cinza da manhã
que o rato engoliu.

Seu cadáver me constrange as entranhas,
passam de longe as moças,
querem chutá-lo os homens.
Ônibus, carros e motos estão indiferentes.

Poderia estar dormindo,
não fosse o cheiro do corpo exumado
que me corta as narinas
e me duplica a náusea.

Eu agacho, eu toco no rato,
sinto sua frieza
e a minha frieza o mata
ainda mais.

Eu nino o rato,
eu o cubro,
eu o acalanto
como um filho natimorto.

O rato desce pele minha garganta
e bate no meu estômago revirado.
E deitado na calçada, o tédio,
o torpor e a ânsia de vômito me invadem.

Deitado na calçada, eu sou o rato.

- Caio Augusto Leite

Nenhum comentário:

Postar um comentário