sábado, 26 de maio de 2012

Novas palavras


Meu amigo, não mergulhe o amor nas palavras
que o eternizam numa folha avulsa de papel.
Se o fizer, sei que irá se arrepender,
o amor vai, o poema fica, a dor se multiplica
e a arte não mais se justifica.

Não comece a fazer versos para enrubescer o outro,
nem traga o perfume do colo da amada.
Que as faces te dão as costas
e o perfume azeda com o tempo
tuas rimas feitas, tuas imagens gastas.

Esqueça as revoluções,
as emoções,
os amigos
- tudo isso é esvaziamento.

Deixa a palavra intacta,
não a roube, não a altere,
não adultere a fidelidade
que ela lhe entregou.

Deixa a palavra
ser palavra.
Não diga,
não escreva,
não insista.

Cala a ideia,
cala o poema,
cala a palavra
de uma vez.

A palavra calada
se sustenta,
você não.

E é por isso que falamos,
que sacrificamos a palavra.
Em nome de nossa humanidade
esquartejamos a palavra,
que sangra no silêncio
e se regenera em variantes,
em vulgares elementos,
em nova língua.

Negue o que disse:

- Matemos a palavra!

- Caio Augusto Leite

Nenhum comentário:

Postar um comentário