sábado, 12 de maio de 2012

Para além desse muro


Um muro enorme e a cidade lá fora,
eu era quase um alemão.
Tateava o cimento:
duro, frio, inflexível.

Onde estou há o tédio,
as coisas não me fazem sorrir.
Essas flores, esses amigos,
esses brinquedos todos.

Andando no perímetro do muro
e desejando ver o mundo além-muro.
Estar do outro lado,
quem sabe ser feliz.

Foi quando vi, nessa extensão infinita,
um pequeno buraco que deixava adentrar luz.
Um fio de luz entrava, precisava espiar.

Coloquei meu olho e antes que pudesse
entender o que havia lá, já estava lá.
Tragado pelo buraco, fui jogado do outro lado.
Era tudo que eu queria.

Caminhava pelo mundo exterior,
e via máquinas gigantes,
homens de preto,
mulheres que choravam.

Crianças sujas de carvão,
animais mortos pelo chão,
flores queimadas.

E era sempre noite nesse país.
Não queria mais estar ali,
corri pro muro.

Olhei o buraquinho
e não voltei
pra minha casa.

Apenas espiava o meu jardim
e toda sua pureza,
uma menina pulava corda.

Chamei, chamei e não me ouviu.
Mão suja me agarrou,
me levou pra uma dessas grandes chaminés
e me deu um cartão, um uniforme, tirou meu nome.

Enquanto parafusava algumas engrenagens
ia aos poucos esquecendo do muro
e das coloridas borboletas.

Pra trás o pequeno Eu,
aqui o homem de cinza
que já nem lembra que fora criança.

- Caio Augusto Leite

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