Meus olhos impregnados
de poluição e ganâncias,
minha alma vai ficando também.
É a força do tempo
sobre o Eu que não escapa ao tempo.
Vou desesperando, delirando, mórbido mundo.
Mesmo quando ando pela cidade,
meu corpo permanece deitado
em estado febril.
Luto e perco contra a doença de ser,
o vício, o pecado, a loucura.
E caminho pela rua enganando os que passam.
Vestido de homem público resisto,
como se as pichações na parede,
os cães mortos e as fadas
não me comovessem.
Sinto minha camisa encharcando-se,
estou desconfortável
nessa cadeira de escritório.
Corro ao banheiro,
olho no espelho a visão de um alterado:
eu mesmo me desconheço agora.
O peito molhado, arde, inflama.
Arranco a camisa com força,
botões voam pelo chão sujo...
e caindo de mim as palavras,
as imagens, as flores
e os cães mortos...
caindo de mim a poesia que neguei,
não cabendo no meu ser,
vai vazando pelos poros.
Pelos olhos, lavando a alma,
levando o fedor desse banheiro,
caindo pelo ralo, pelos rios,
pelos mares, vai purificar o mundo inteiro.
- Caio Augusto Leite
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