sábado, 19 de maio de 2012

A última catarse


Meus olhos impregnados
de poluição e ganâncias,
minha alma vai ficando também.

É a força do tempo
sobre o Eu que não escapa ao tempo.
Vou desesperando, delirando, mórbido mundo.

Mesmo quando ando pela cidade,
meu corpo permanece deitado
em estado febril.

Luto e perco contra a doença de ser,
o vício, o pecado, a loucura.
E caminho pela rua enganando os que passam.

Vestido de homem público resisto,
como se as pichações na parede,
os cães mortos e as fadas
não me comovessem.

Sinto minha camisa encharcando-se,
estou desconfortável
nessa cadeira de escritório.

Corro ao banheiro,
olho no espelho a visão de um alterado:
eu mesmo me desconheço agora.

O peito molhado, arde, inflama.
Arranco a camisa com força,
botões voam pelo chão sujo...

e caindo de mim as palavras,
as imagens, as flores
e os cães mortos...

caindo de mim a poesia que neguei,
não cabendo no meu ser,
vai vazando pelos poros.

Pelos olhos, lavando a alma,
levando o fedor desse banheiro,
caindo pelo ralo, pelos rios,
pelos mares, vai purificar o mundo inteiro.

- Caio Augusto Leite

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