quinta-feira, 17 de maio de 2012
Libertação
Quando nasci,
meu coração batia
por qualquer pormenor,
tudo era emoção
no seio de minha mãe.
E veio a infância
quebrando levemente
as bordas do órgão.
Minúsculas desilusões.
Mas então o tal dos
quinze anos,
ah os grandes enganos,
amor leviano,
meu peito rachando.
Aos trinta, o peito doía
como se algo quisesse sair.
Coração cativo,
ave que não canta.
Eis-me agora com a mão direita
sobre o canto esquerdo do meu tórax.
Rasgando pele a pele, nervo a nervo,
o coração foi se despindo de mim.
E saiu voando na noite,
pro horizonte,
pro máximo horizonte.
Foi deixando um rastro
de sangue que prenuncia a aurora.
Me deixa o sol que
seca a ferida aberta.
O oco se eterniza
e me mantém vivo,
como foi gentil o coração.
Agora ele está por aí,
nas roças,
nas bossas,
sendo feliz e amado
longe da alma do poeta que o constrangia de palavras.
- Caio Augusto Leite
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