quinta-feira, 31 de maio de 2012

Corredor


Sigo com passos resolutos pelo corredor,
que se fresco o cimento fosse em areia movediça afundaria.
Sigo sem olhar pros lados, sem dizer oi a outrem,
sem me arriscar no grande mar das ilusões.

A porta é meu foco, porta que me levará pra rua,
pra longe das pessoas, pras calçadas
que ligarão meus pés a minha casa
e estando em casa protegido enfim.

Mas você apareceu, você é a única forma que posso usar:
quem é você que barrou minha passagem ao arco de luz?
Te percebo por instantes e talvez já te ame,
sua imagem se engasta em minha retina para sempre,
mas meu sempre dura pouco.

Você também passa, tem seu próprio destino construído...

Alcanço a rua, o ar da tarde em aço,
o caminho jamais foi amarelo,
um ônibus antigo solta uma baforada cinza
nos meus pulmões apaixonados.

Em casa converso com meus objetos,
o espelho me acusa,
o telefone me ameaça,
as paredes me consolam
e a cama me abraça.

Penso em ti,
em todo mundo
que não tenho
pois me fecho,
ao toque quente,
feito a flor
feito a concha
mais profunda.

Está decidido, amanhã puxo conversa.
Mas é só rever o cinza sobre o tempo
que esqueço da promessa
e com passos resolutos
sigo pelo corredor...

 - Caio Augusto Leite 

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