sexta-feira, 8 de junho de 2012

Concreção abstrata


Viscosa mistura que da betoneira
vai caindo lentamente em minha boca,
chega no peito, nos ossos, na alma enfim.

Tudo paralisa, os olhos,
a língua, o coração.
As palavras, os beijos
e até os sentimentos...

Isso é a cidade,
a grande cidade cinza
que me faz engolir prédios,
carros e avenidas.

E parado na Praça da Sé
eu vou me tornando monumento público.
Pousem pombas, caguem pombas, me corroam as fezes...

No centro da maior cidade da América do Sul
eu não existo mais, sou só a lembrança,
o passado, a saudade dos bons tempos...

De pé, com um livro na mão,
estou concretado.
E ninguém me vê,
eu sou um absurdo,
eu sou abstrato.

- Caio Augusto Leite

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