sábado, 30 de junho de 2012

Mamoeiro de verdade


No meio do mato, distante de fato
de toda população de homens-deus
uma fruta caída, aberta, pronta
para o milagre de se refazer.

Além da indecisa casca,
no côncavo laranja do fruto doce
habitam centenas ou milhares
de pequenas sementinhas.

Teimosas, resistem aos tempos
de abominação ao verde,
ao lúcido, ao natural modo
de existência.

Não há crise de identidade,
sem misturas, sem biogenéticas metamorfoses.
Nada de mamera, mamaçã, mamelão.
Seu nome, ainda, mamão.

E todos os humanos sentem inveja do inocente fruto,
que nu de todas as expectativas de melhora de cultivo
consegue se enterrar na terra e providenciar
novo mamoeiro que rompe a mata, a morte e finca no céu seu ápice.

Nós aqui comendo tomate ácido,
vestindo pêlos que não são nossos,
existindo em função das outras
coisas que nos protegem, já nem somos.

Límpida chuva rasga o sol,
eu acho um tédio.
E a árvore se anima com a vida prodigiosa que vem caindo,
é que ela não parece, é. É mamoeiro, mamoeiro de verdade.

- Caio Augusto Leite

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