sexta-feira, 15 de junho de 2012

Impossível jornada


Que meus pés não se lembram de nada
quando passeiam por folhas secas
de árvores que nem são mangueiras,
são de espécies desconhecidas, logo menores,
já está na consciência de todos.

Que o coração tenta abrigar todas as imagens
que teimam em fugir, no voo dessas pombas cinzas
e sujas da cidade, para o estranho mundo simbólico
onde se consuma a realidade,
é o que não sabem.

Apenas tento, mas é como abraçar a água
que cai em cachoeira dos olhos magoados da amada,
que inconsolável não permite que meu toque atinja-a.
Ou como agachar para recolher e colar os cacos
daquele cristal que se quebrou por descuido alheio.

Não basta olhar, os olhos não sabem ver.
Não basta ouvir, não há som que se produza.
Como então alcançar esses vultos que passam
acenando e dilacerando o peito caçador?

Não há como e é por isso que eu continuo tentando,
pois é essa gana pelo nunca conseguir que me mantém
longe dos espectros da noite, dos pensamentos de fraqueza,
de mim, enfim, pois é preciso ser o outro, buscar a outra coisa
para que não se desgaste o Eu numa exposição pura e desnecessária.

E se um dia essas pombas pousarem no meu quintal
eu chego de mansinho e num grito desvairado
espanto essas bobas e desgovernadas aves
que irão mais uma vez esconder de mim
a verdade que não pode nunca ser verdade.

- Caio Augusto Leite

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