sexta-feira, 1 de junho de 2012
Lição noturna
A cortina treme fracamente
como se o soprar de um moribundo
a empurrasse nesse fantasmagórico movimento.
A escuridão é de tal ordem
que a noite ficou sólida,
não existe ninguém pra lá
dessa janelinha...
Tenho sono e medo de dormir,
que irmão ficará de vigília ao meu lado
enquanto tento sonhar mais uma vez?
Mas a treva a cada instante é mais espessa,
comprime a cidade, a casa, meu corpo...
Aquele menino sentado no banco da escola não tem amigos,
seus pés não alcançam o chão e ficam balançando no vácuo,
mais vácuo é seu coração, que pensamentos o corroem?
As outras crianças correm, brincam, comem os lanches
preparados com deliciosa delicadeza pelas mães:
maçãs embrulhadas em papel filme, pão integral e iogurte de morango.
O sinal toca e o menino, de cabeça baixa, segue para a classe.
A aula é de matemática, a exatidão desses números nunca serviu de nada.
- Responda, qual é o resultado? - a professora se dirigia ao menino,
que ainda de cabeça baixa, não fazia ideia da resposta, não fazia ideia de nada.
- Anda menino! - pouco pedagógica essa mulher.
O menino levantou o olhar sem nenhuma pressa
e todos na sala se assustaram,
sobre os olhos do garoto tremiam duas cortinas...
... duas cortinas na janela, na mais densa noite,
como eu odeio matemática.
E dentro da solidão maior rememorava as lembranças de outrora,
fazia uma revisão da própria vida
e não concluía nada,
sabia tanto da vida
quanto do problema de matemática da sua longínqua quinta série...
- Caio Augusto Leite
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Linda sua poesia, espero os olhos desta criança hoje, seja balançada com a força, uma força de felicidade e não de dor. Beijos
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